Duero/Douro
Tipología o caracterización geográfica
Étimo
Ámbito semántico
Resumen general
De DŬRIU, de origem pré-latina, provavelmente indo-europeia, embora haja dúvidas quanto à sua celticidade.
Aspectos geográficos, históricos, administrativos
Tem a maior bacia hidrográfica e é o rio de maior caudal absoluto na Península Ibérica. Possui uma densa rede de afluentes, recolhendo águas da Cordilheira Cantábrica, do Sistema Ibérico e do Sistema Ibérico. Nasce nos Picos de Urbión, na parte norte do Sistema Ibérico. Percorre depois toda a Meseta Norte até atravessar a região sul do maciço granítico em que assentam os territórios do Norte de Portugal, a Galiza e parte noroeste de Leão. Administrativamente, passa pelas províncias espanholas de Sória, Burgos, Valladolid, Zamora e Salamanca. Define depois a fronteira entre Portugal e Espanha, até atravessar território inteiramente português, pouco antes de Barca de Alva, banhando os distritos de Bragança, Guarda, Vila Real, Viseu, Aveiro e Porto.
Quando Plínio (Livro IV, capítulo XXXIV) descreve as populações da Hispânia Citerior, isto é, do norte da Península, desde os Pirenéus até ao oceano, assinala: "flumen Limia, Durius amnis e maximis Hispaniae, ortus in Pelendonibus et iuxta Numantiam lapsus, dein per Arevacos Vaccaeosque, disterminatis ab Asturia Vettonibus, a Lusitania Gallaecis, ibi quoque Turdulos a Bracaris arcens" (o rio Lima e o rio Douro, um dos maiores da Hispânia, que nasce no território dos Pelêndones e passa perto de Numância, depois pelo território dos Arevacos e Vaceus, separa das Astúrias os Vetões, da Lusitânia os Galaicos e também dos bracarenses os túrdulos).
Na Idade Média, desenvolveu-se um processo de repovamento na sua bacia, com populações procedentes do outro lado da Cordilheira Cantábrica, às quais se somaram, com o século IX já adiantado, moçárabes que abandonavam Al-Andalus.
Información específica de étimo para este topónimo
Nome amplamente atestado nas fontes da Antiguidade. No DOELP, refere-se a conhecida hipótese de Douro e o seu cognato Duero terem origem céltica, tendo em conta o paralelo morfológico e semântico com o galês dŵr e o bretão dour, palavras cognatas que significam ‘água’. Não obstante esta hipótese, como Guerra_1998 (p. 431) aponta, A. Tovar atribui-lhe origem pré-céltica, pondo-o em paralelo com hidrónimos antigos como Duria (atual Mühlbach, afluente do Danúbio) e Δoύρ (Irlanda). M.ª Lourdes Albertos (OnomPersonal p. 110 e 271), que o identifica com o antropónimo Durius, relaciona-o com o grego ϑέo e o sânscrito dhávate, ‘flui’, dhautih, ‘fonte’, do radical indo-europeu *dheu, ‘correr, fluir’ (idem). Moralejo_HidronPrerroman (p. 63) relaciona-o com esta mesma pela forma *dhu-r-io- ‘corrente’, mas não descarta uma raiz pré-indo-europeia *dura/duria.
Em português e galego, atesta-se a forma medieval Doiro, a qual provém de DŬRIU-, por metátese de iode (cf. Nunes_1989 p. 54, Williams_1961 p. 49, GramaticaFerreiro_1996 p. 175/176, MariñoPaz_2017 p. 299). As atestações medievais incluem formas com e sem metátese e com a vogal tónica representada quer por u quer por o : durio, dorio; duiro, doiro (ver a documentação história antiga e medieval associada a esta ficha). A variação entre oi e ou no português, manifestada em pares como ouro/oiro, coisa/cousa, noite/noute (cf. Williams_1961 p. 95), justifica a atual configuração Douro, que, depois de ter concorrido com Doiro, é hoje a forma legitimada pela norma-padrão do português. A forma castelhana Duero é cognata de Doiro/Douro e pressupõe *Duiro ou *Doiro, devendo-se provavelmente o ditongo ue ao tratamento de ui ou oi em analogia com os resultados da ditongação de Ŏ latino no romance castelhano (cf. MGHist p. 65 e Penny_2002).
Há, portanto, grande probabilidade de este nome ter origem ou transmissão célticas. Além, disso, no contexto da história linguística do território atualmente português, é possível que Douro tenha sido trazido pela própria administração romana e não tenha tido antes uso efetivo entre as populações ribeirinhas pré-romanas. O facto de Durius designar um rio que nasce em plena região celtibérica favorece a hipótese da sua origem céltica.
Documentación histórica
Antigua e medieval
Em grego:
- "δι᾽ ὧν ὁ Δούριος ῥεῖ κατ᾽ Ἀκούτειαν πόλιν τῶν Ὀυακκαίων ἔχων διάβασιν" c. 17 d. C. StrabGeo 3.3.2
- "τοῦ Δωρíου 'εκβολάς" c. 150 d.C. PtolomGeo 2.5.3
- "ἑπομένων αὐτῷ καὶ τότε τῶν Παλλαντίων μέχρι Δορίου ποταμοῦ" c. 150 d. C. ApianoHistRomana ΙΒΗΡΙΚΗ secção 55
- "Ἀπὸ δὲ Οὐάκου ποταμοῦ ἐκδέχονται αἱ τοῦ "Δορίου ποταμοῦ ἐκβολαί" séc. IV Marciano-periplo p. 548
Em latim:
- "et radices eiusdem adluens Durius" c. 43 d. C. PompMela_Choro 3, 6
- "Durius amnis ex maximis Hispaniae, ortus in Pelendonibus" 77 d. C. Plínio Livro IV, capítulo XXXIV
- "Fluvius Durius nascitur in campis Hispaniae." séc. IV-séc. VI JulioHon_Cosmog A-20 e B-4
- "et inde ad portum de Mirleus per illa aqua de Estola usque in Durio, usque in foze de Corrago" 572 Costa_BragaLiberFidei p. 32-33
- "in ripa flubio durio, inter durio et mondego" 897 PMH Dipl. p. 8
- "qui est in ripa de flumine Durio, de termino de Autero de Sellas", 909, DocTordesillas, 1
- "inter duiru et tamiga" 964 PMH Dipl. p. 54
- "prope flumen duiro" 995? PMH Dipl. p. 108
- "ribulo flumen dorio" 987 PMH Dipl. p. 96
- "de dorio" 1019 PMH Dipl. p. 150
- "tras doiro" 1050 PMH Dipl. 230
- “in terminum de Mambulas decurrens iuxta albeus Dorius”, 1067, DocMonSilos, 15.
- "et ad Rubiales de Dorio sicut…”, 1068 CDSSalvdelMoral, p. 263.
- "et duodecim hominibus uobiscum cum transieritis Puergam et Dorium”, 1070, Sancho II escoge Oña como lugar de su sepultura, CDOña I, 58.
- “…quae sunt in flumine Doreo…”, 1075, Donación de Sancho II a la iglesia de Sigüenza, DiplomáticaArriacense, pág. 17.
- “usque ad Penam de Aranda donec labitur in fluvium Durium”, 1088, División hecha en el año 1088 de los términos de los obispados de Osma y Coca, DHOsma III, 6.
- "quantaque abeo sive de parentela sive de gana[an]cia quinta integra sive aaquen de Doiro sive aalen de Doiro" 1091 LPCoimbra p. 524-525
- "secus flumen Durio, in illa uena de Durio" 1101 DMP I p. 2/3
- "inter Durio et Tamice" [1120-1122] 1132 DMP I p.64
- "currente flumine Durio" 1130 DMP I p. 133
- "quomodo ferit in Dorio, per medium Durium" 1141 DMP I p. 231
- "et fert in Doyro, discurrent ribulo Sarmenia et flumine Doyro" 1116 DMP I p. 57
- "Et terminum de Penela per rium Doirom" 1169 DMP I p. 397
- “Facta carta apud Sanctum Stephanum rippe Dorii”, 1186, Privilegio de Alfonso VIII haciendo una donación a los monjes de Santa Maria de Ovila, DiplomáticaArriacense, pág. 184.
- "In concambium pro aldea, que dicitur aldea Sancti Dominici, de Nunno Faniz, que est in ripa Dorii" 1190 DocTordesillas
- “que est in ripa Dorii prope Oterium de Sellis”, 1190, Carta de permuta partida por A.B.C., DocTordesillas, 29.
Em galego e português:
- "e quanto aujamos desde vilar Mayor ata nas aguas de doyro en Regno de Leon" 1261 ForoCasteloRodrigo p. 138
- "Ontre Doir'e Mĩ' en Portugal morava/ un mercador" c. 1270 CSM n.os 245 e 267
- "quantos herdamentos nos auemos aalẽ Doyro no Couto de Negrelos" 1295 CIPM DN023
- "per caminho de Lampai/ passar Minh'e Doir'e Gaia"c. 1300? Cantigas_UNL n.º 960, v. 22/node/5956
Em castelhano:
- “Siquis homo quomodo hic nominavimus quesierit [sequere suo omiziero et de] Duero in antea lo mataret, CCC solidos pectet et sit omiziero”, 1076, FSepúlveda.
- “Caparrosa, quae est supra ripas Dorio”, 1143, Privilegio del Emperador Don Alonso VII por el que dio a la villa de Roa el fuero de Sepúlveda, DHOsma III, 17.
- "E sobre los pastos, e sobre las aguas e sobre los prados e sobre los soros e sobre el rio Duero" 1267 DocTordesillas
- “Val Buena de Duero” Merindad de Cerrato, 1352, LBecerroBehetríasLeón.
Moderna
Em português:
- "e sendo ja em Miranda do Doiro aforrado pera ahi vir gente d' el-rey por elle" 1533 Resende_JoaoII cap. XI
- "Dom Estevão de Menezes, filho segundo do Conde de Tarouca, se passou de Galiza para Entre Douro e Minho" 1658-1665 Sande_Cartas
- "Barcaça familiar do Douro, que tem por leme hũ remo grande" 1712-1721 Bluteau s.v. azuracha
- "olhou benignamente para o comércio do Doiro" 1756 Corpus_Pt
- "ou nadar nos cachões do Douro" 1888 Corpus_Pt
Em castelhano:
- "Çamora está más de treinta leguas del nascimiento de Duero, y Soria no está más de cinco", 1521 CDH
- “Aranda de Duero”, 1528, CPecheros.
- "Aquí el Duero y el Tajo en la riqueza igualan al Pactolo y sus arenas" 1640 CDH
- "los paises que estan entre los dos famosos rios Duero, y Miño, pertenecían á Galicia, y no á la Lusitania" 1745 CDH
- "Cerca de Soria, y á la otra parte del Duero" 1855 CDH
Cognados y topónimos relacionados
Duruelo de la Sierra (Sória) e Duratón (afluente da margem esquerda do Douro) são derivados sufixais de Duero, conforme se explica nos artigos "Duruelo de la Sierra" e "Duratón". Duruelo (Segóvia) e Duruelo (Blascomillán, Ávila) serão casos de transferência do topónimo soriano no contexto do repovoamento medieval (ibidem).
en Toponimia de Galicia e Portugal (PID2020-114216RB-C61), proyecto integrado en Toponomasticon Hispaniae, financiado por el MCIN/AEI/10.13039/501100011033/. http://toponhisp.org