Miño, Minho
Tipología o caracterización geográfica
Étimo
Ámbito semántico
Resumen general
Origem pré-latina. Talvez da raiz indo-europeia *mei- 'andar, caminhar'.
Aspectos geográficos, históricos, administrativos
Rio que nasce no Pedregal de Irimia (concelho de Meira, província de Lugo, na Galiza; cf. SignA), embora tradicionalmente se lhe atribua a nascente em Fomiñá. O Minho desagua no oceano Atlântico entre A Guarda (Pontevedra) e Caminha (Viana do Castelo). É o rio mais longo da Galiza, com um curso de cerca de 310 km, que se estende por três das suas províncias: Lugo, Ourense e Pontevedra. Serve de fronteira entre Espanha e Portugal a partir da desembocadura do rio Trancoso, Troncoso ou, ainda, Barxas, um afluente da margem esquerda, pouco depois da barragem de Frieira, na Galiza. Em Portugal, banha os concelhos de Melgaço, Monção, Valença do Minho, Vila Nova de Cerveira e Caminha, todos no distrito de Viana do Castelo (cf. CMP 1:25 000).
Información específica de étimo para este topónimo
O potamónimo Minho/Miño, com formas atestadas em fontes da Antiguidade, tem indiscutivelmente origem pré-latina. Na perspetiva da hipótese da hidronímia do europeu antigo (Alteuropäische Hydronymie), Un_Krahe (p. 98), inclui Minho entre exemplos como Minija (atual Lituânia), Mnina (Polónia) e Mignone (Lácio, Itália), nos quais ocorre a forma *min-, variante de *moin- e * mein-, com alargamento em -n- (sobre este sufixo, ver BascuasHidron_2022, p. 231). Guerra_1998 (p. 535 e 713) aceita a mesma hipótese, assinalando a sufixação em -io, cuja adjunção pode ter ocorrido antes da latinização. Moralejo_HidronPrerroman (p. 54) propõe interrogativamente que o potamónimo provenha da raiz indo-europeia *mei- 'caminhar, andar', muito embora observe que com esta forma se registam outras sete raízes no IEW. Quanto a nomes alternativos do rio em apreço nas fontes da Antiguidade, refira-se Baenis, que Untermann (1986: 226, apud Guerra_1998, p. 324) vê como uma variante de Minius, tendo em conta alternâncias como as de Mastia/Bastia. Acresce alguma confusão entre potamónimos nessas fontes, como a de Neiva com Minho, ou a de Leça com Lima (ver DOELP). A forma Nimios, que ocorre em Apiano, será uma forma metatizada de Minios (cf. Guerra_1998 p. 534). Búa_ToponimiaPrelatina regista derivados e homónimos de Miño na Galiza, definindo uma das séries toponímicas características do noroeste peninsular.
A atribuição de Minho a um item lexical hispano-romano, minĭum, ‘mínio, óxido vermelho de chumbo’, é etimologia antiga (ver EtimSanIsid) que hoje parece não resistir a um exame crítico, embora tenha tido defensores e seja ainda divulgada. MoralejoToponGallega (p. 124), ao analisar o topónimo galego Fumiñeo (Muxía, Corunha), isola uma raiz *mini-, à qual não consegue atribuir sentido, mas cuja ocorrência identifica em topónimos galegos como Miñán, Miñao, Miñide, Miño, Miñon, Miñote, Miñoteira. O substantivo comum minhoca igualmente teria parentesco como o potamónimo em apreço, possibilidade reforçada pela sinonímia com a palavra verme, evolução do latim vermis, is (variante vermen, inis; cf. DÉLL), ao qual se associa a cor vermelha e, etimologicamente, a própria designação de vermelho. Segundo o DÉLL, o termo minĭum não é latino na sua origem, dado que Propércio "le qualifie d’Hiberum”. Retomando uma hipótese de A. Tovar, TopnGaliciaCabezQ (p. 445) relaciona Minho com Sil, nome do mais importante afluente do Minho e identificável com o substantivo comum castelhano sil, ‘ocre’ (DRAE). Esta discussão encontra-se ultrapassada.
Documentación histórica
Antigua e medieval
- "καὶ ὁ μετ᾽ αὐτὸν Βαῖνις (οἱ δὲ Μίνιον φασὶ)" c. 17 d. C. StrabGeo 3.3.4
- "Μινίου ποταμοῦ ἐκβολαί" c. 150 PtolomGeo 2.6.1
- "Minius amnis, ĪĪĪĪ ore spatiosus", 77 d. C. Plinio 4.112
- "καὶ μέχρι Νίμιος ἑτέρου ποταμοῦ" c. 150 d. C. ApianoHistRomana ΙΒΗΡΙΚΗ 72
- "quintus comitatus Paramos dictus terminatur in Minio" 569 Costa_BragaLiberFidei
- "ad fontem Minei fluminis" 572 Costa_BragaLiberFidei
- "Mineus fluvius Galliciae nomen a colore pigmenti sumpsit" c. 625 EtimSantIsid 13, 21, 32
- "riba Minei" 747 TVelloLugo
- "villas quas abemus inter Minio et Latera" 871 TumboCelanova
- "vuillas de illa parte fluminis Minei, in suburbio Tudense" 883 TASantiago
- "in loco praedicto Polumbario, in territorio Lemabus, inter duo flumina Minio et Silae" 997 CDPombeiro p. 56
- "ripa Minei", "flumen Minei", "ipsius Minei", 1125 DMP I p. 89
- "flumen Miniu" 1127 TLourenzá
- "ad fontem de Mino" 1133 DocAfonsoVII 48-49
- "de ripa Minij", "ad ipsam aqua de Minio", "ad aquam Minii" 1134 DMP I p. 165
- "de ripa Minij", "ad ipsam aquam de Minio", "ad aquam Minii" 1137 DMP I p. 194, 229
- "riva Minij", "juxta fluvium Minii", "in ripa de Minio" 1161 DMP I p. 375
- "intrat in fluuium Mineum", "intrat in Mineum", "in flumine Minei" 1169 DMP I p. 382/383
- "usque ad Minium" 1173 DMP I p. 418
- "Franco seu vigariu en Riba de Mino Martin Muniz de Toen." 1259 CDOseira p. 802
- "Et eu Estevoo Martinez, notario en Riba de Minno en lugar de Migel Perez" 1306 CDOseira p. 1263
- "cada que pasar o Miño e tornar por Milide" 1350 FMSantiago p. 536
- "dos meus Reynos de la foz de minho ata a ffoz D odiana" 1340 CHPort_AfonsoIV doc. 248
- "E himdo maes adiamte, cheguou ao rio do Minho" 1441-1450 FLopes_CDJoaoI p. 18
- "en hua cortinna que esta acerca da porta do arco iustocon o rio do Minno decerca da dita cidade" 1446 BMiño_sXV p. 320
Moderna
- "Somam os moradores d Amtre Doyro e Mynho [...] per todos moradores quarenta hũu mil e trinta e quatro moradores" 1527-1532 Numeramento1527 p. 264
- "O rio Minho que he hum dos grandes de Hespanha" 1610 Leão_Descrição p. 38
- "Da parte do Sul, se divide de Portugal, pello Rio Minho" 1637 Epanaphoras_FMMelo p. 215
- "Choren mais auga quente,/ que fria ò Miño, è Sil" 1724 Gondomar
- "Camînha. Villa de Portugal, no Arcebispado de Braga, tres legoas de Viana, na foz do Minho." 1712-1728 Bluteau
- "Minho – rio – que divide a nossa provincia do Minho, da de Galliza." 1875 DicCoroPLeal
Paisaje toponímico próximo
O nome do rio Minho/Miño tem deixado reflexos abundantes ao longo do seu percurso tanto em nomes de localidades (Ribas de Miño, Valença do Minho) como nos de afluentes, por processos de derivação (Miñoto, Miñotelo...). Da nascente até à foz, contam-se na atualidade vários topónimos formados por derivação ou composição: Fomiñá, Miñoto e Miñotelo (A Pastoriza, Lugo); Ribas de Miño (vários lugares assim chamados na província de Lugo), Riba de Miño (Castro de Rei, Lugo) e Nogueira de Miño (Chantada, Lugo); Castrelo de Miño, Prado de Miño e Vide de Miño, Barra de Miño (Ourense); Salvaterra de Miño (Pontevedra), Valença do Minho (Viana do Castelo) – cf. NG e CM (ver também MoralejoÁlvarez_CallaicaNomina). É de referir o uso secundário de Minho como denominação da região que se estende a sul do rio Minho e é abrangida pelos atuais distritos portugueses de Viana do Castelo e Braga, onde ocorrem os topónimos Geraz do Minho e Vieira do Minho (Braga), bem como o santuário da Senhora do Minho (na serra de Arga, em Viana do Castelo) – cf. CMP.
Cognados y topónimos relacionados
Fora da bacia do rio Minho, encontramos na Galiza a mesma raiz hidronímica na forma homónima Miño (concelho da província da Corunha) ou em prováveis derivados como os hidrotopónimos Miñoto (afluente do rio Gafos, Pontevedra), Remiñoto (Marín, Pontevedra), Miñouba (Domaio, Moaña, Pontevedra). Cf. Búa_ToponimiaPrelatina. Nesta série, incluem-se ainda os topónimos Miñor e Valmiñor (concelhos galegos de Gondomar, Nigrán e Baiona, na província de Pontevedra), bem como Miñons (Dumbría, Corunha) – cf. Moralejo (2007, p. 257), na bibliografia específica.
en Toponimia de Galicia e Portugal (PID2020-114216RB-C61), proyecto integrado en Toponomasticon Hispaniae, financiado por el MCIN/AEI/10.13039/501100011033/. http://toponhisp.org