Cávado
Tipoloxía ou caracterización xeográfica
Étimo
Resumo xeral
Potamónimo de origem obscura. Pode ser o resultado de um nome comum hispano-latino, cádavo 'pau queimado, chamuscado', mas a motivação continua por explicar.
Aspectos xeográficos, históricos, administrativos
Rio que nasce na serra do Larouco (distrito de Vila Real) e desagua no oceano Atlântico (cf. CMP 1:25 0000 folhas 19 – Tourém, Montalegre, 32 – Serraquinhos, Montalegre, 31 – Outeiro, Montalegre, 44 – Ruivães, Vieira do Minho, 43 – Vieira do Minho, 57 – Póvoa de Lanhoso, 56 – Amares, 55 – Carapeços, Barcelos, 69 – Barcelos, 68 – Esposende).
Información específica de étimo para este topónimo
É muito incerta a hipótese do DOELP, segundo a qual, considerando a forma medieval Cádavo e variantes, o potamónimo “talvez seja proveniente do celta cad, ‘batalha’ e avon, avu-, ‘rio’”, remetendo para o galês cad e afon, este último tido como origem do conhecido rio Avon, em Inglaterra. É uma etimologia improvável, porque, sem negar o eventual contributo céltico na toponímia do noroeste peninsular, acontece que os nomes compostos têm um papel marginal na hidronímia pré-latina (cf. Búa_2009 p. 118 e comunicação pessoal do mesmo autor).
A homonímia das atestações do potamónimo português com a forma galega Cádavo, que se regista quer como topónimo (Baleira, Lugo; Cotobade, Pontevedra) quer como potamónimo (Perlío, Fene; e Mezquita, Ourense) – cf. Bua_ToponimiaPrelatina p. 203 –, tem conduzido à hipótese da relação com o nome comum galego cádavo/cádava “pau de toxo, uz, queiroa, xesta etc., medio queimado ou chamuscado, que queda no monte despois dun incendio” (DRAG; ver também TLPGP) e ao português cadava ou cadavo, com o mesmo significado (cf. Aulete_Dicionario e NDLP). Na Galiza, registam-se ainda Cádebo (um monte, entre Moraña e Campo Lameiro, Pontevedra) e Cadavedo (ver Bua_ToponimiaPrelatina p. 203). Cadaveira, Cadavosa e Escadavada são topónimos que ocorrem tanto na Galiza como em Portugal, tal como acontece com o derivado Cadaval (cf. ibidem, NG e CMP).
Contudo, sendo difícil justificar como pôde o nome cádavo/cadavo, por si só e diretamente, denominar cursos de água, importa comparar Cávado e Cádavo com outros potamónimos em -avo e -ava, documentados na hidronímia europeia, como é o caso do rio Saar (afluente do Mosela), Saravus num poema de Ausónio (séc. IV), a que se junta Morava, rio da República Checa (comunicação pessoal de Carlos Búa). Na Península Ibérica, conta-se talvez Esva, rio do ocidente das Astúrias e que pode vir de um primitivo *Isava (ou -ova/-eva) e Isábena (afluente do Ésera, e este do rio Cinca, Alto Aragão), atestado como Isavana num documento de 810 (ibidem). Rabagão, nome de afluente do Cávado, surge atestado como Regavam (em 1526) e pode igualmente pertencer a esta série, se analisado como *Regav-on, configurando um diminutivo de *Régavo; e o mesmo é possível com Ardabón, nome de lugar e fonte em Ponteceso (Corunha), se derivado de *Árdavo, cuja base seria relacionável com Arda (Aarda, em 1171, e Alarda, em 951), um afluente da margem esquerda do Douro – cf. ibidem.
Por outro lado, tomando em consideração o étimo *KATĂVU, subsiste o problema da interpretação da raiz do potamónimo. Com base numa conjetura de Hübner e Schulten, segundo a qual o nome registado na Antiguidade, Celadus, será alteração de Kέυαδος, Moralejo_HidroPrerroman (p. 62) relaciona Cávado com o nome kέλαδος ‘ruído, voz’ e com a raiz indo-europeia *keu- ‘oco, fundo’ – “parece que alusivo a la cuenca fluvial; cf. lat. cavus, irl. med. cūa". É uma hipótese que, por enquanto, parece ainda aguardar confirmação.
Acresce que os documentos medievais atestam também formas como cadabom (1044 PMH Diplomata, p. 203), cadavon (1061 PMH Diplomata, p. 269), kadabon (1074 PMH Diplomata, p. 319), catauon (1075 PMH Diplomata, p. 320) e kadauon (1075 PMH Diplomata, p. 321), todas referidas a um rio que não parece ser não o atual Cávado, mas mais provavelmente o rio Calvelhe (Moralejo_HidroPrerroman p. 62), o qual parece também ter registo como rio Onda (ver CMP). O topónimo galego Os Cadabós pode relacionar-se com este potamónimo português desaparecido (cf. Bua_ToponimiaPrelatina, p. 203).
Em suma, apesar de relacionável com o léxico comum – mediante uma hipotética conversão toponímica de cádavo ou cadavo –, a inclusão de Cávado num substrato pré-latino, provavelmente indo-europeu, afigura-se tanto ou mais válida.
Documentación histórica
Antiga e medieval
- "inter Catavo et Limia" 915 Costa_BragaLiberFidei, p. 31
- "in cadavo" 959 PMH Diplomata, p. 46
- "erga anne catauo" 959 PMH Diplomata p. 48
- "in ripa catauo" 960 PMH Diplomata p. 51
- "inter cadabo et aliste" 965 PMH Diplomata, p. 57
- "inter que et kadauo" 1044 PMH Diplomata, p. 204
- "ripa catauo" 1053 PMH Diplomata, p. 236
- "ripa Catauo, per illum flumen de Cadauo" 1101 DPM I, pp. 12, 23
- "per medium flumen de Cadauo, in litore Cataui" 1110 DPM I, p. 24
- "inter Catauum" 1110 DPM I, p. 28
- "discurrente flumine Catauo" 1120 DPM I, p. 66
- "usque in Kadauo" 1128 DPM I, p. 111
- "d antre Cadauo et Minio" 1258 PMH Inquisitiones p. 293
Moderna
- "[...] [E] esta Villa foy antigamente Cidade Episcopal, chamada Aguas Celenas do rio Celano, chamado hoje Cavado, nome que lhe puzerão os Mouros, quando dominàrão Espanha pelos annos de 713. chamando a esta Cidade Barcellenos, corrupto hoje em Barcellos" 1706 Costa_Corografia, p. 261
- "Cávado. – Nasce na serra de Larouco légua e meia ao N. de Montalegre" 1874 Baptista_ChorogModPt, p. 34
en Toponimia de Galicia e Portugal (PID2020-114216RB-C61), proyecto integrado en Toponomasticon Hispaniae, financiado por el MCIN/AEI/10.13039/501100011033/. http://toponhisp.org