Monchique
Tipologia edo geografia karakterizazioa
Etimoa
Ámbito semántico
Laburpen orokorra
O topónimo provém do lat. Monte Sacru, 'Montanha Sagrada', através da forma moçárabe *Monte Sacre e da arabizada Munt Šáqir.
Geografi, historia, administrazio alderdiak
Vila algarvia localizada na cordilheira de Monchique, entre as serras da Fóia e da Picota. A primeira menção conhecida do lugar consta de uma ara votiva romana dedicada às suas águas sagradas (séc. I) Encarnação_1984, p. 102. Para além de ter constituído um santuário pré-romano e um balneário termal romano, enquanto elemento orográfico, a serra de Monchique serviu de aviso à navegação da proximidade do Promontorium Sacrum (Algarve), através dos picos da Fóia e da Picota IberAlg. Nas fontes árabes, é descrita como uma região natural perto do oceano (séc. IX e XI), como uma montanha pertencente ao iqlím ‘distrito’ de Silves (séc. XI), caracterizada pela sua fragosidade e inacessibilidade, e como lugar de refúgio de rebeldes berberes e muladis (séc. IX) contra o poder de Córdova (Martínez et Capela, 2016). Na narrativa do cruzado frísio que participou na conquista de Silves em 1189, o lugar é referenciado como um castelo RelNav. Passou ao poder português com a conquista do Algarve no séc. XIII. Integrado no território de Silves, o concelho de Monchique foi criado em 1773 por D. José, em razão da importância das suas termas medicinais.
Leku izen honentzako informazio berezkoa
Monchique é um topónimo composto, proveniente do lat. Monte Sacru 'Montanha Sagrada'. As atestações árabes conhecidas Munt Šáqir, Munt Šáq.r, Muntašáqur, Muntišáq.r documentam os seguintes processos de variação e mudança: palatalização da sibilante apicoalveolar latina e metátese da vibrante alveolar simples para posição de coda (comum a todas elas), formas sem e com aglutinação dos dois componentes (Munt Šáqir, Munt Šáq.r / Muntašáqur, Muntišáq.r) e variação do timbre das vogais átonas (Munta /munti; Šáqir / šáqur) ou mesmo a sua perda no primeiro elemento da composição (Munt). É essa perda e a aglutinação do nome ao adjetivo que levarão à reanálise da consoante dental e da apicoalveolar (esta última já pronunciada em árabe como uma palatoalveolar) como uma africada palatal surda em posição de ataque. A variante Munchice (/mõˈʧike/), que figura na Relação da Derrota Naval em 1189, atesta não só essa reanálise, através do dígrafo <ch> que representa a africada, como as soluções históricas vocálicas que viriam a prevalecer, nomeadamente a palatalização da vogal tónica /á > í/ (imāla) e o emudecimento da vogal átona final /u > i ~ e/ (~ = em variação com).
Enquanto produto do contacto linguístico entre o árabe andalusi e o moçárabe, as soluções históricas documentadas por este topónimo decorrem dos seguintes mecanismos de mudança: (i) nivelação linguística, testemunhada pelo emudecimento e perda da vogal final do acusativo singular, variantes romances reforçadas pela sua pronúncia em árabe; (ii) mistura linguística, produzida pelas palatalizações da sibilante apicoalveolar e da vogal tónica, próprias do árabe andalusi; (iii) inovação linguística, mediante a metátese e posterior apócope da vibrante, a aglutinação dos dois termos da composição e a reanálise das consoantes dental e palatoalveolar surdas como uma africada palatal em posição inicial de sílaba, fonema integrante do inventário fonológico do moçárabe. A simplificação da africada palatal surda /ʧ > ʃ/ é já uma mudança portuguesa tardia (/mõˈʃik(e)/).
A motivação do étimo encontra-se na sacralidade das Caldas de Monchique (associadas a um culto pré-romano) e na do próprio território de que fez parte, conhecido na antiguidade como Promontorium Sacrum.
Dokumentazio historikoa
Antzinatekoa eta Erdi Arokoa
- "aqui[s] sacri[s]" séc. I, Encarnação_1984, P. 102.
- "Munt Šāqir" séc. IX, apud Martínez et Capela (2016)
- "nāḥiyat Muntašāqur; nāḥiyat Šilb fī jabal Munt Šāq.r; bi-jabal Muntišāq.r min naẓr Šilb; bi-jabal Munt Šāqir li-ʿamal Šilb" séc. XI, apud Martínez et Capela (2016)
- "Mónte Xácro ou Monte Xáquer. I. Cut. I. Hay., I. Jat., etc. Nome de dos castillos, uno cerca de Faro en Portugal, y otro en la prov. de Elvira, el Montexícar de la B. de er., y hoy Montejícar. (...) Mónte-Xáquer, v. Ens. ggr. - Montejáque, prov. de Málaga" Glosario_Simonet, p. 374, s. v. monte
- "Hac autem sunt castella quae sortita est christianitas per acquisitionem Silviae. Carphanabal, Lagus, Alvor, Porcimunt, Munchite (sic, Munchice), Montagut, Caboiere, Mussiene, Paderne" 1189 RelNav, p. 43
- "E que poserom nome caal mayor no logo que chamom Monchique que he fundo de miragaya, que parte com o couto de Cedofeita" 1386 Diss_Ribeiro, V, p. 296
- "fernam vaasquez marinheiro morador em monchique" 1442 Desc, p. 141
Garaikidea
- "Cinco léguas da cidade de Silves, para o noroeste, está o lugar de Monchique, no vale de duas serras altíssimas. (...). As duas serras, de que falei, vão correndo de oriente a ponente; são tão altas, que delas se descobre todo o Algarve e a maior parte do Campo d'Ourique e Alentejo e muita parte do mar, quanto a vista pode alcançar e são balisas para os navegantes que, saindo do mar profundo, a primeira terra que vêem muitas léguas no mar, são estas duas serras, cujas extremidades aparecem por cima das nuvens". c.1600 HRAlg, p. 154 e 155
- "E perto desta Cidade corre huã Ribrª q̄ nasse nas serras de monchique q̄ se dis brona" 1621 AspectosRAlg, p. 120
- "Ho lugar de Monchique seu termo 187 de pé" 1621 AspectosRAlg, p. 121
- "A principal montanha do Algarve he a serra de Monchique, chamada pelos antigos Monte Cico, a qual corre proximamente d’O. para E., e forma com outras menores huma cadeia, que separa o Algarve do Alem-Tejo" 1841 CoroAlg_XIX, vol. 1, p. 28
- "Concelho de Monchique. Foi desannexado este Concelho do de Silves por alvará de 10 de janeiro de 1773, erigindo a aldeia do mesmo nome em villa com juiz de fora" 1841,CoroAlg_XIX p. 247
- "Monchique. Villa da prov. do Algarve, séde de conc. e de com., dist. de Faro, bisp. do Algarve, rel de Lisboa. (...) A 5 km ficam as caldas de Monchique, cujas aguas sulfurosas da temperatura de 32º a 33º são muito diáfanas" 1889 DicCor_Mattos
Hurbileko leku izenak
kognatuak eta erlazionatutako leku izenak
Topónimos provenientes do mesmo étimo no Al-Andalus:
- Montejaque (Málaga), Mojácar (Granada) e Montejícar (Almeria).
Topónimos secundários de Monchique:
- Caldas de Monchique; Portela de Monchique; Ribeira de Monchique, Serra de Monchique (conc. de Monchique)
Prováveis transferências toponímicas:
- Monchique e Barranco de Monchique (conc. de Alcoutim); Monchique (conc. de Guimarães, Penafiel, Santiago do Cacém e Grândola); lugar de Monchique, atestado em 1386, rua de Monchique e Calçada de Monchique (Porto).
Topónimos derivados de gentílicos de Monchique:
- Monchica (conc. de Guimarães e Ourique), Monchicão de Baixo e Monchicão de Cima (conc. de Silves), Foros da Monchiqueira e Monte da Monchiqueira (conc. de Évora) e Monchiqueiros (conc. de Portimão).
Topónimos com origem no mesmo adjetivo e localizados no mesmo território:
- Vila de Sagres, Ponta de Sagres (< lat. *Aquas Sacras) (conc. de Vila do Bispo)
en Toponimia de Galicia e Portugal (PID2020-114216RB-C61), proyecto integrado en Toponomasticon Hispaniae, financiado por el MCIN/AEI/10.13039/501100011033/. http://toponhisp.org