Degebe
Tipologia ou caracterização geográfica
Étimo
Ámbito semántico
Resumo geral
Potamónimo de origem árabe. Composto por WAD ’ 'vale, rio', e um item obscuro, que pode ser jubb ou jibb 'cisterna', ou jāba 'cobrador'.
Aspetos geográficos, históricos, administrativos
Afluente da margem direita do rio Guadiana. Nasce a nordeste de Évora e percorre os concelhos de Arraiolos, Évora, Portel e Reguengos de Monsaraz (cf. CMP 1:25 000, folhas 501 — Moura; 491 — Amieira, Portel; 482 — Campo, Reguengos de Monsaraz; 481 — Monte do Trigo, Portel; 472 — S. Manços, Évora; 461 — Montoito, Redondo; 460 — Évora; 449 — Canaviais, Évora; 438 — Igrejinha, Arraiolos).
Informação específica de étimo para este topónimo
O nome é analisável em dois elementos, sendo o primeiro ode-, ‘vale, rio’, de origem arábica, e o segundo de filiação insegura. As formas medievais apresentam o elemento odi- (<árabe andalusi WAD), Odigebe, no qual mais tarde o o- inicial terá sido reanalisado como artigo definido, dando origem à forma Degebe. No DOELP, admite-se a possibilidade de -gebe se relacionar com o árabe jibb, ‘cisterna, poço’, mas é favorecida a hipótese de uma origem pré-latina.
Observe-se que, segundo DicArabIber (s.v. alchub), a palavra tem no árabe clássico a forma jubb, ‘cisterna’, mas estaria em alternância com jibb, forma “palatalizada” (isto é, com vogal não recuada), no árabe andalusi. Jubb/jibb relaciona-se com a raiz do verbo jabbnā ‘recolher (águas de escorrência)’ (cf. Reig_DicArabe), reforçando a adequação semântica de uma eventual etimologia árabe, dado tratar-se de um rio que recolhe as águas dos seus afluentes.
Dado que em português as duas variantes árabo-andalusis permanecem com o seu vocalismo original nos nomes comuns aljube e algibe, a explicação da vogal média na primeira sílaba do elemento -gebe (a vogal final poderia ser encarada como vogal de apoio) seria suscetível de um tratamento idiossincrático de wāw ou yā´ árabes. Mas não é despicienda uma outra hipótese, a de tal elemento se relacionar antes com um nome de agente como jāba, que significa ‘cobrador’ (cf. ibidem): a passagem de ā à vogal média do português atual ficaria pelo imala, ou seja, pelo processo de palatalização tão frequente árabe magrebino e andalusi.
Contra a hipótese árabe a respeito da etimologia de *GEBE, perfila-se também o facto de as formas medieval e atual não apresentarem vestígios do artigo árabe, o qual seria de ocorrer, se se supuser que Odigebe/Degebe deriva de *wadi-l-jibb, ou seja, ‘rio da cisterna’ ou ‘rio do poço’. Trata-se de uma estrutura de genitivo (iḍāfa, ou seja “estado constructo”), no qual, assinala Terés_Nómina (p. 289), o artigo é exigido na construção antes do segundo elemento se este for um item do léxico comum. Mesmo assim, não é de excluir que, do ponto de vista fonomorfológico se verificasse efetivamente a ocorrência do artigo; com efeito, Steiger (ContribHisp-Arabe, p. 181) observa que no hispano-árabe as chamadas letras solares, que assimilam artigo árabe al-, também incluíam o jime (ﺝ), correspondente a uma consoante pós-palatal sonora que teria passado a fricativa pré-palatal, tal como acontece nos dialetos magrebinos contemporâneos. O nome em apreço poderia ter, portanto, a forma *wadi-l-jibb ou, aceitando a assimilação do artigo, *wadi-j-jibb.
É, portanto, plausível a tese de Degebe ter globalmente uma etimologia árabe, sem incluir qualquer elemento pré-árabe. Contudo, o segundo elemento de Degebe (ou hostoricamente, Odigebe), continua a ter, por enquanto, origem obscura.
Documentação histórica
Antiga e medieval
- "qui est positus in ipsa via prope Portum de udigebe" 1258 LPortel p. 4
- "et eundo per venam ipsius fluvii usque ubi intrat aqua de Vdigebe" 1261 LPortel p. 6
- "foz de aqua de Azanbugeira que intrat in Vdigebe 1265 LPortel p. 19
- "e por couto hu entram as Peçenas en Udigebe" 1265 LPortel p. 24
- "et de ipso ribeyro sicut vadit intrare in Udigebe" 1276 ChancAfonsoIII-1,2 p. 213
Moderna
- "e assi outros muitos outros dos nossos de Portugal, como no contorno da cidade Evora, Odiuor, Odigebe, Odiarça, Odivellas,Odiege" 1610 Leão_Descrição p. 31/32
- "Degebe, ou Odigebe. Nasce este rio na herdade do Passo, Freguezia de S. Bento do Mato do Alentejo" 1762 Castro_Mappa p. 119
- "postou-se o exercito portuguez sobre a margem esquerda do rio Odigebe" 1889 Archivo Historico Portuguez p. 88
Paisagem toponímica próxima
O nome Degebe faz parte outros topónimos, relativos a lugares nas imediações do rio: Monte do Rio Degebe (assinaldo na CMP, mas hoje aparentemente esquecido), Monte dos Álamos do Degebe (São Miguel de Machede, Évora, mas que hoje para ter-se perdido), Quinta Nova do Degebe (Évora), Bairro do Degebe (Nossa Senhora de Machede, Évora) -- cf. RTP e CMP. Exibindo o elemento ode-, que faz parte de Odigebe, forma mais antiga de Degebe, contam-se os potamónimos Odivelas (rio que nasce a alguns quilómetros do curso final do Degebe), Odearce (ribeira situada mais a sul e afluente do Guadiana), Divor ou Odivor (a poente, a quilómetros da nascente do rio Degebe) e Odiege, que asfontes contenporâneas não registam e que parece corresponder à ribeira de São Brissos, da rede hidrográfica do Sado e já bastante afastado do Degebe. Refira-se ainda o próprio nome Guadiana, cuja forma portuguesa era Odiana.
Cognatos e nomes de lugares relacionados
Não considerando a partilha de WAD com outros potamónimos aqui mencionados, não se reconhece a relação do segundo formante de Degebe com outros topónimos.
en Toponimia de Galicia e Portugal (PID2020-114216RB-C61), proyecto integrado en Toponomasticon Hispaniae, financiado por el MCIN/AEI/10.13039/501100011033/. http://toponhisp.org